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14 de fev. de 2015

Sua receita leva nome de gente?

Uma das coisas que mais está associado à memória afetiva é alimento. Quem não se lembra de determinada comidinha da mãe, do bolo da vó, da sopa da tia, do café coado pelo vô com seu aroma invadindo a casa...?

Essa semana fiz rosquinhas de anizete, receita de família que a vó e tias maternas do meu ex marido faziam, aprendi (entenda-se, leio a receita) desde a época em que começamos a namorar em 1988. Se não me falha a memória era no final de ano que dona Dolores fazia, então sempre que posso faço na época de Natal para presentear a família, esse ano me atrasei um cadinho, só fiz biscoitos de gengibre para o Natal.
Bisa Dolores e as rosquinhas


Rosquinhas de anizete da bisa Dolores - é sempre assim que chamo a receita. Tenho várias receitas com nome, acho bacana preservar essa associação, hoje tudo se copia, não dão créditos, apagam marcas d'água de fotos para usar como se fossem suas, cortam, fazem propaganda com receitas alheias e  por aí vai...É por isso que não curto essas páginas de culinária sem personalidade própria, apenas um banco de dados de receitas sem história, como se entrassem na casa da pessoa e roubassem seu caderno de receitas de família e vendessem.

E quem não compactua com essa prática, denúncia, é taxado de invejoso do sucesso de suas bem sucedidas páginas.
Pelas curtidas e compartilhamentos fazem "sucesso", temos que reconhecer, mas cada com seus valores e ética, há gosto para tudo, mas  ainda bem que ainda existem blogs, sites e páginas relacionadas a culinária feitas com afeto e ética. E não é só lá do fundo do baú, já tenho minhas receitas dos tempos virtuais, o bolo trufado da Cynthia, o pão da Pepa, a sopa paraguaia da Lyna e outras, tudo anotadinho no caderno.

Voltando ao assunto principal e mais importante; em meus cadernos de receita tenho o sorvete de ameixa da tia Margarida, a torta de Morangos da amiga Elza, o pudim de leite cozido da tia Cidinha...

Minha avó não era alfabetizada, então fazia tudo "de cabeça", infelizmente não tenho as receitas de bolos de fubá, laranja...mas elas estão na minha memória afetiva, assim como várias outras: a sopa de mandioquinha da tia Neide, a macarronada com ervilhas da Cidoca, a macarronada com batatas e ovos cozidos do meu irmão, o molho de carne vermelhinho com cheiro de louro da minha nona, o bolo de cenoura ralada da minha mãe...
Minha vozinha paterna, saudade...


Sucesso mesmo de uma receita/comida é o afeto como ingrediente principal, porque não importa quanto tempo passe a gente se lembra de alguém querido, pode ser uma simples caneca de café com leite e farinha de milho, como fazia para meu pai quando ele estava doente ou um simples bolinho de chuva que fez parte da infância de quase todo mundo que sabe o valor do afeto.

É isso, saudade dos sabores e aromas  do passado...Então sempre que posso faço uma receitinha para resgatar essa sensação tão boa que alimenta o corpo e a alma.
Um dia irei embora e espero que tenha deixado essa memória em meu filho e que ele pense: Ai que saudade do pão de mel da minha mãe, do pãozinho quentinho que comprávamos na saída da escola e dividíamos pelo caminho... 

Dalva Rodrigues