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16 de nov. de 2014

Trem da Vida

Minha vida era um trem
Surgia entre as montanhas
Rompendo as névoas da manhã
De encontro ao céu azulado
E suas nuvens de algodão.

Minha vida era um trem
Percorria o vilarejo alegre
Assistia encabulado o beijo dos namorados
Chorava as lágrimas da mãe na partida do filho amado
Respondia sorridente o adeus da meninada
Piuí, piuí, piuí...

Minha vida era um trem...
Estacionou no fim da linha enferrujada
Tem como lembrança os caminhos floridos
As estações, suas plataformas
O povo, pipoca, algodão doce e picolé.

Hoje o trem me leva
Quando posso sento no canto
Calada
Pela janela vejo a cidade passar:
Concreto estático que grita uma prece aos céus
Árvores secas que teimam em florir, roubam-me um sorriso
Carros e motos disputam espaço
Som de buzinas, fumaça 
Uns dias têm nuvens negras que não desabam
E quando o fazem, alagam o solo árido com  lágrimas
Outros dias o azul se faz presente
Mas as nuvens agora cinzas não são mais de algodão
A noite chega de mansinho para roubar a tarde
No belo e irônico horizonte poluído
A cidade passa 

Olho para dentro

Metrô Penha - SP

O trem nos leva
Procuro não prestar atenção nos passageiros
Cada um conectado em sua nuvem artificial
Tudo é solidão.
Até eu.
Consolo?
Minha nuvem é musical
Aumento o som
Fecho os olhos e embarco
Vejo-me trem.


Dalva Rodrigues 


Música para ouvir no trem