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14 de set. de 2014

Um conto de amor

 Aos 45 do segundo tempo minha participação na blogagem coletiva:
 Espalhe Amor em Seu Blog - da Elaine Gaspareto do Blog Um Pouco de Mim. O link tá no final!

 Um conto de amor

Sentada no banco vazio do grande quintal a senhora com um sorriso nos lábios estava em silêncio.
Ao seu lado a sacola estava vazia, mas seu coração transbordava de amor. A solidão não lhe importava mais,  os momentos que acabara de viver ainda eram tão vivos que ouvia o som. Levantou-se com dificuldade e pôs-se a caminhar lentamente para casa ouvindo mentalmente as risadas das crianças....barulho de vida, sonhos, esperança.

...

Desde menina fora muito inteligente e proclamada por todos como a melhor em tudo, mas isso não lhe rendera laços  de afeto suficientes para que as pessoas queridas ficassem junto dela, ao contrário, por no fundo sentir-se melhor que todos, acabava afastando a todos depois de um breve tempo.  Mas isso não tinha importância naquele momento, a vida era longa e não faltava pessoas interessantes para preencher o espaço de pessoa tão culta e interessante como ela.

No entanto o tempo não tem dó, passa. Amores passaram, amigos passaram, pais se foram, família distanciou-se, todos formaram suas famílias ou laços...A vida até então tão prazerosa lhe parecia vazia, sentia-se cansada, já chegara aos sessenta anos, cansou das viagens principalmente agora que eram cada vez mais solitárias, não sentia a euforia da partida, muito menos o conforto da volta, cansou das tardes vazias, sem abraços, sem risos, sem brindes...O que sobrou lhe parecia tão sem alma, talvez ela nunca tenha prestado atenção nesta ausência.

E assim a senhora desistira do mundo, pouco saia do apartamento, vivia imersa em seus livros, recebia o contador uma vez por mês, resistia bravamente a falar com a falante moça que fazia limpeza há anos em seu apartamento de luxo; cada vez mais se isolava, nem mesmo no mundo virtual conseguia se sentir doando ou recebendo afeto genuíno, como não fora acostumada a ele não sentia  vontade de interagir com outras pessoas, muito menos de outras classes sociais.

Certa manhã  Jandira - moça da limpeza - apesar de não ser copeira já se acostumara e lhe servir o lanche da manhã e junto ao copo de suco deixou um pequeno embrulho com um laço de fita  bem bonito e um cartãozinho.

A senhora ergueu os olhos por sobre os óculos como a perguntar: O que é isso?

-É para a senhora!

Abaixou os olhos e leu: Este coração é seu!

Largou o livro e com as mãos suavemente enrugadas abriu o pacote...Um delicado coração/sachê de tecido floral ornado de renda apareceu, vinha acompanhado de um cartãozinho: Para lembrar que sem doação o amor não existe!

Jandira explicou sobre a campanha Espalhe Amor Por Aí, que ela e algumas amigas se juntaram na comunidade  para confeccionar vários corações para distribuírem para as pessoas e quem sabe despertar um pouco de amor e gentileza no coração delas.

Algo tocara em sua alma, segurou firmemente o coração nas mãos e inesperadamente com um sorriso agradeceu a moça que pela primeira vez em tantos anos sentira ternura em seu olhar e no agradecimento.

Levantou-se com sua joia nas mãos, correu os olhos pela sala repleta de fotografias, recordações de momentos maravilhosos que vivera...Ela estava sozinha, todos se foram.
Naquele instante decidiu que abriria seu coração pela primeira vez para doá-lo. 

Jandira a ajudou, apresentou-a à comunidade, outra realidade,  onde conheceu outras pessoas e aprendeu a fazer corações e bonecas de tecido, quadradinhos de crochê para mantas...
E assim seus dias se preencheram, já não sentia solidão, de vez em quando juntava suas prendas feitas com tanto carinho e levava em um orfanato onde passava o dia com crianças ávidas por afeto. 

Lá ela aprendeu que quem nunca doou, nunca amou verdadeiramente, na melhor das hipóteses, recebeu.

Alguém espalhou amor.


Dalva Rodrigues 




A Elaine prorrogou para dia 20/09 a blogagem coletiva, quer falar de amor? Clique no link e veja como participar e ainda ganhar um coração!

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